quinta-feira, 4 de março de 2010

Discurso de Apresentação da Candidatura

"APRESENTAÇÃO DA CANDIDATURA
À PRESIDÊNCIA DO PSD

PAULO CASTRO RANGEL

10 DE FEVEREIRO DE 2010

Portuguesas e Portugueses,
Militantes do PSD,
Senhoras e Senhores Jornalistas:

1. Portugal vive hoje circunstâncias excepcionais, quase dramáticas, condições muito duras e difíceis, que infelizmente vão perdurar no tempo.

A situação financeira é muito delicada e agravou-se sobretudo nas últimas semanas e até nos últimos dias.

A estagnação da nossa economia é evidente e o crescimento desen­freado do desemprego é uma certeza.

A autoridade, o prestígio e a confiança nas instituições políticas – designadamente no Governo – tem vindo a degradar-se de dia para dia, como bem mostram os acontecimentos mais recentes. Até o poder judicial vive tempos de desgaste continuado, suscitando cada vez menos confiança no povo e na opinião pública.

2. A história do PSD fez-se do chamamento das gerações que, em cada momento, são capazes de provocar e levar por diante as rupturas necessárias. O PSD é o partido da ruptura em Portugal.

Foi o PSD que pilotou a ruptura com a tutela militar e assegurou a passagem definitiva para uma democracia de tipo ocidental.

Foi o PSD que nos libertou da colectivização da economia, integrando-nos na normalidade das econo­mias sociais de mercado europeias.

3. A governação do PS tem comprometido de tal maneira o futuro do país, que a terceira ruptura, que só o PSD poderá pilotar, já não é a de “normalizar” a democracia civil, já não é a de libertar o país do colectivismo de Estado, é pura e simplesmente, a de LIBERTAR O FUTURO. Libertar o futuro dos compromissos e condicionamentos que o PS lhe tem criado e continua a criar.

Deve ser esse o desígnio para as gerações presentes e vindouras: LIBERTAR O FUTURO.
Com o endividamento existente, com os investimentos megalómanos assumidos, o futuro das gerações vindouras está totalmente sequestrado, cativo, aprisionado.

O primeiro objectivo de um governo de ruptura, que queira salvar o bem-estar das gerações presentes e a sobrevivência condigna em Portugal das gerações futuras, só pode ser um e esse mesmo: criar condições para libertar o futuro dos encargos até aqui contraídos.

4. Temos, antes do mais, de romper com uma política financeira e económica, apostada no simples endividamento e em obras faraónicas, que não percebeu as consequências da integração na moeda única. Reduzir o défice do Estado e o endividamento externo, apostar na inovação e no desenvolvimento, num país que dinamiza o risco e aproveita a energia dos seus empreendedores e dos seus exportadores.

Tem de arrojar-se com uma revolução na educação, que, em vez de estar centrada no combate corporativo aos professores, rejeite, por todos os meios, o facilitismo e a estatística, promovendo os grandes valores da escola: a transmissão do conhecimento, a exigência, a autoridade dos professores, a autonomia de gestão.

A ruptura tem de chegar à justiça, onde é indispensável aumentar os poderes decisórios e definitivos dos magistrados, aumentando-lhe também as vias de avaliação e de responsabilidade externa. A ruptura há-de passar por um novo equilíbrio social (e também territorial) em que se dê prioridade aqueles que precisam da ajuda do Estado, mas só na medida em que precisem e enquanto precisarem, sendo implacável com a fraude e o desperdício.

Disciplina financeira, dinamismo económico, rigor na educação, agilidade na justiça, equilíbrio social e inovação territorial são os eixos de uma ruptura política de que Portugal precisa mais do que nunca.

5. Portugueses, caros militantes do PSD, Disse-vos, há mais de três meses, que, em razão do cumprimento do meu mandato europeu, não pretendia ser candidato à presidência do PSD.

No quadro das circunstâncias excepcionais em que vive o país – e que se revelaram com uma intensidade perturbante nos últimos três meses – e, em particular, o agudizar da situação económico-financeiro, o aprofundamento lancinante da crise social e a desagregação acelerada e insustentável do executivo, em face dessas circunstâncias excepcionalmente graves, sinto o apelo moral e o dever cívico, sinto mesmo a responsabilidade nacional de apresentar a candidatura à presidência do PSD, Partido Social Democrata.

6. Candidato-me, pois, com total sentido de serviço, por estar convicto – estar intimamente convicto – que, raras vezes, foi tão necessária uma ruptura, uma ruptura com quinze anos de políticas socialistas, uma ruptura com este caminho de inércia e apatia para o abismo de um país endividado e sem horizontes para as gerações presentes e futuras.

Esta situação não pode continuar. É preciso fazer um corte, uma clarificação, uma ruptura. No actual estado de coisas, JÁ NÃO BASTA MUDAR, É PRECISO ROMPER.

7. Este projecto de ruptura não constitui tarefa de um homem providencial, é uma responsabilidade de uma liderança, mas também de todos e de cada um. E, por isso, este projecto de ruptura política é um projecto essencialmente aberto.

Terá de chegar primeiro aos militantes, estender-se aos simpatizantes e abranger até os cidadãos que em casa, na rua, no trabalho, nos blogues estão preocupados com o seu país. Não se trata, por isso, de uma candidatura preparada, não dispõe de exércitos alinhados, não foi inspirada em almoços ou reuniões com estruturas partidárias ou com personalidades gradas do partido. Não houve, aliás, qualquer convite a militantes, personalidades ou amigos para a presença nesta sala esta noite.

É uma candidatura desprendida, aberta igualmente a todos porque solitária, que se começa a organizar e a lançar neste preciso momento em que vos falo. Uma candidatura aberta a dialogar agora – e só a partir de agora – com as bases, as estruturas partidárias distritais e concelhias, as personalidades históricas.

Nesse sentido, vem a ser uma candidatura de unidade: não faz acepção de pessoas, não discrimina as pessoas do chamado aparelho das pretensas elites, não menoriza os simpatizantes em face dos militantes, não discrimina social ou regionalmente os votantes do PSD, não assenta em divisões geracionais de idade ou de anos de militância.

Todos são precisos e mesmo “estes” todos não são suficientes. Chegou, aliás, a hora de formar uma verdadeira PLATAFORMA DE VONTADE. É isso que pretende ser esta candidatura: um MOVIMENTO POLITÍCO NACIONAL ABERTO E VOLUNTÁRIO.

Um movimento de disponibilidades que junte todos os que acreditam que é preciso fazer uma ruptura, que é possível refundar a política em Portugal, que é viável lavar a honra da nossa democracia, restabelecer a dignidade das nossas instituições, sanear a nossa credibilidade externa, dar um horizonte de vida e de vida com bem-estar aos portugueses.

Caros Portugueses, caros militantes do PSD:

Falei em unidade no sentido da não acepção de pessoas em função da sua origem territorial, social, profissional. Mas para lá desta unidade genuinamente pessoal, aquilo de que o país e o PSD mais precisam é da afirmação desassombrada de ideias claras e precisas, de quem fale sem medo das palavras e sem receio das consequências.

É preciso falar claro e dizer ao PSD e ao país o que o espera. Aqueles que se revirem neste projecto de ruptura, de ruptura política, sabem que o PSD, assumindo todas as suas responsabilidades, será uma oposição firme e inabalável à actual governação socialista, sabem que o PSD não alinhará em consensos moles, oportunistas ou de mera conveniência, sabem que o PSD não contribuirá para o apodrecimento lento das instituições.

E saberão também que, em face do estado do país, não vamos prometer sucessos fáceis nem soluções milagrosas.

O nosso projecto de ruptura, é preciso dizê-lo, desde já, aos portugueses e aos militantes do PSD, vai implicar algum tempo em que não poderemos oferecer mais do que trabalho, esforço, sacrifício. Mas esse sacrifício e esforço que terão um sentido, o sentido de reerguer o país, de o tirar do marasmo, de lhe devolver a esperança.

A esperança, essa que veio a ser o último direito de que os socialistas nos espoliaram.

Somos hoje, desgraçadamente, um país sem esperança. E não podemos sê-lo, não queremos sê-lo, não vamos sê-lo. Como disse Sá Carneiro, «Portugal não pode ser isto e não irá ser isto».

Eu acredito que, com esforço, com trabalho, com vontade, com determinação, nós podemos voltar a ser uma sociedade de oportunidades, uma sociedade de equilíbrios sociais e territoriais, uma sociedade onde o mercado e o Estado têm o seu lugar.

É esse o nosso desígnio. Cabe agora aos militantes, aos simpatizantes e a todos os portugueses que se queiram juntar a nós dizer se vale ou não a pena lutar por Portugal, pelo bem-estar dos portugueses e pelo futuro nas nossas gerações.

Fazer a ruptura será libertar o futuro, criando, a partir daqui, uma esperança. A esperança de reerguer o PSD e de o trazer de novo à solução dos grandes desafios de Portugal. Esta candidatura fará, desde já, tudo isso, com força, com energia, com entusiasmo.

E isso, porque acreditamos que é possível fazer política com o sentido de serviço e o entusiasmo de um projecto colectivo. É possível derrotar a inércia, é possível vencer os impasses, é possível transformar Portugal."